O Jornal Pessoal se parece a um jornal estudantil. É escrito por uma única pessoa. O formato é pequeno, equivalente a uma folha de papel Ofício. Está mais para boletim do que para jornal. Agora tem 16 páginas, depois de ter circulado por grande parte da sua história com 12. Não usa cor, nem foto, exceto em suas seções memorialísticas, que abrigam imagens do passado. Suas ilustrações são desenhos, sob a responsabilidade de Luiz Pinto, irmão do redator solitário.
Não é pela forma ou pela aparência que o Jornal Pessoal atrai leitores e causa repercussão. Nem pretende se valer de qualquer recurso extra, mesmo porque seus meios materiais são severamente limitados. Continua a apostar na força da palavra e na relevância das ideias, sem firulas ou confeitos eletrônicos.
Desde sua criação, o JP se recusa a aceitar publicidade. Sobrevive da comercialização da sua tiragem, de dois mil exemplares, dos quais 1.600 são vendidos em bancas de revista de Belém do Pará, a mais antiga e importante cidade da Amazônia, com dois milhões de habitantes na sua área metropolitana.
Sem assinaturas e sem contar com vendedores de rua, depende da iniciativa do seu leitor para sobreviver. O leitor precisará ir a uma banca de revista se quiser ler o jornal. O JP se considera uma publicação de texto, em papel impresso, mesmo quando, finalmente, em 2008, depois de pressão intensa dos seus leitores, passou a existir na rede de computadores. Seu site, porém, se adequou à feição de um jornal impresso, que valoriza o conteúdo e dispensa os atrativos de forma. E, infelizmente, está sempre atrasado, invertendo a regra nas relações entre essas mídias,
Por que, diante dessa pobreza franciscana, o Jornal Pessoal já recebeu prêmios na Itália e nos Estados Unidos, foi matéria de destaque na imprensa internacional, é citado como referência de estudos acadêmicos e apontado como fonte necessária de consulta? A razão não deve ser buscada em eventuais qualidades pessoais do seu único redator, que não o distinguem de milhares de outros profissionais da imprensa, mas no tema ao qual ele se dedica há mais de 40 anos: a Amazônia.
No curso desta já longa trajetória, de 46 anos de exercício contínuo e ininterrupto do jornalismo, em duas décadas dela contando com o suporte de um órgão da grande imprensa nacional (O Estado de S. Paulo) e de outro da imprensa regional (O Liberal), Lúcio pode acumular informações e experiências que lhe permitiram estabelecer um ponto de observação singular para seu pequeno jornal.
Graças a essa característica, o JP alcançou durabilidade incomum para os padrões do jornalismo alternativo, como o que pratica. Ele passou a ter sua marca registrada, de rápida identificação. Essa marca possui alguns componentes: fidelidade aos fatos, compromisso com a verdade, empenho por causas em favor da Amazônia e destemor na divulgação das informações que apura e das avaliações que faz.
É fácil não concordar com o que pensa e diz o jornal. Para convencê-lo, contudo, o interlocutor precisa demonstrar a sua própria razão. A facilidade decorre da atitude natural do jornal diante dos seus erros: admite-os se eles lhe são demonstrados e incorpora a verdade contraditada, que passa a ser também sua. Não teme o confronto. Pelo contrário: estimula a polêmica, através de uma seção de cartas que respeita religiosamente a íntegra das mensagens enviadas, mesmo que elas possam conter agressões abertas ao editor do jornal, conforme já aconteceu não raras vezes.